Mulheres à Cesta e Dê a Becky Hammon o título de head coach, mas não porque ela é uma mulher
Duas edições nessa semana!
Olá amigos, tudo bem?
Nessa semana teremos duas edições da newsletter. Eu amo quando isso acontece. Hoje, envio para vocês um artigo que tive a honra de escrever para o Blog do Souza, onde contribuo falando de basquete feminino. Ontem (segunda-feira), abordei a falta de reconhecimento que mulheres têm na NBA por sua capacidade técnica.
Modéstia à parte, a leitura é obrigatória para quem quer entender um pouco melhor a realidade de quem não se identifica como homem cis e hétero no esporte. O tema é muito importante, por isso estou enviando aqui também.
Ah, se você chegou até aqui, não se esqueça de se inscrever. É muito fácil! Basta clicar em “Subscribe now” e digitar seu e-mail. Desse jeito, toda semana você vai receber a newsletter automaticamente.
Atletas, técnicos, agentes e assessores de imprensa: caso vocês queiram ter algo noticiado na newsletter (que tem na lista de envio jornalistas de grandes veículos e mídias, além influenciadores), por favor entrar em contato através do e-mail rodrigues.f.roberta@gmail.com.
Sem mais delongas, vamos ao que interessa…
Na quinta-feira, vamos ter uma segunda edição do Beta Basket, porque tem algo muito legal vindo por aí que vai deixar o basquete feminino ainda mais rico: Mulheres à Cesta.
Essa é a segunda edição do livro (já tenho a minha cópia!), que estará à disposição do público no dia 20 de agosto em formato de e-book. Para deixar a experiência ainda mais legal, o documentário baseado na obra será disponibilizado no site oficial no dia 6 de setembro: clique aqui para acessar.
Tive a oportunidade de conversar com Claudia Guedes, autora do livro. Sua história sobre todo o processo de evolução desse projeto é incrível e inspiradora. Fiquem atentos à caixa de entrada de vocês logo cedo na quinta-feira para conhecerem essa mulher tão valiosa para o basquete feminino brasileiro.
Enquanto isso, fiquem com o teaser do documentário:
Becky Hammon no comando do San Antonio Spurs contra o Milwaukee Bucks. (2020, AP Photo/Eric Gay)
O nome de Becky Hammon ficou em alta nesses últimos dias, na maioria das vezes ligado a Chicago. Quem está mais por dentro do basquete feminino do que do masculino, tal qual eu que vos escrevo, por alguns momentos teve a esperança que que a assistente técnica do San Antonio Spurs estivesse de malas prontas para comandar o Chicago Sky, na WNBA.
Não era isso, claro.
No fim da última semana o Chicago Bulls demitiu o técnico Jim Boylen após duas temporadas e um aproveitamento de 39 vitórias e 84 derrotas. Esse histórico de apenas 31% de resultados positivos justifica a decisão de Arturas Karnisovas, vice-presidente de operações internas.
Apesar de os torcedores aparentemente estarem em consenso em relação a essa mudança, um outro dilema entra em cena: quem será o próximo técnico do Chicago Bulls? A pergunta, porém, tomou uma flexão diferente. Seria o próximo técnico do Chicago Bulls uma técnica? Talvez.
Em primeiro lugar, é importante falar sobre a falta de diversidade de gênero e sexualidade na NBA. A quantidade de mulheres com posição em comissões técnicas se resume a dez: Lindsey Harding (Sacramento Kings), Lindsay Gottlieb (Cleveland Cavaliers), Kara Lawson (Boston Celtics), Niele Ivey (Memphis Grizzlies), Natalie Nakase (LA Clippers), Becky Hammon (San Antonio Spurs), Jenny Boucek (Dallas Mavericks), Kristi Toliver (Washington Wizards), Karen Stack-Umlauf (Chicago Bulls) e Brittni Donaldson (Toronto Raptors).
Ou seja, menos de 10% de todas as comissões técnicas (os quatro principais treinadores que ficam no banco) da NBA é composta por mulheres. Será que isso é um indicativo de que pessoas que não se identificam como homens cis tem um QI de basquetebol menor? Ou será que a questão é muito mais profunda do que isso?
Acertou quem escolheu a segunda parte.
Pau Gasol é um dos maiores defensores de Becky Hammon na posição de head coach na NBA. (2018, Getty Images)
Quando o assunto é sexualidade, a situação se mostra ainda mais complicada. Nenhum atleta em atividade é abertamente LGBTQIA e todos se identificam publicamente como homens cis. Em um paralelo rápido, a WNBA tem mais de dúzias de atletas LBQ e pelo menos uma atleta abertamente queer, que responde pelos pronomes de ela/dela, ele/dele e elxs/delxs.
Ficou confuso ou não entendeu o motivo de eu ter mencionado esses dados? O problema já está nisso: a NBA é composta por uma bruta maioria de homens cis, o que impede o desenvolvimento e crescimento orgânico de pessoas de outros gêneros. E é muito importante enfatizar “gênero”, não mulheres, porque uma instituição esportiva deve ter, em sua raiz, a missão de oferecer um espaço seguro e oportunidade para qualquer ser humano que seja capaz de promover a modalidade da melhor maneira.
Tudo isso tendo sido dito, vamos ao que tem acontecido desde quando Jim Boylen foi demitido. Uma série de nomes surgiu nos veículos de comunicação e redes sociais como prováveis substitutos para a posição de head coach do Chicago Bulls. Becky Hammon como o mais cogitado.
Enquanto as sugestões de nomes masculinos passavam pelos questionamentos tradicionais sobre a capacidade de alguém para treinar uma equipe profissional, as perguntas que faziam (e seguem fazendo) sobre Becky Hammon escancaram o machismo estrutural que ainda assola o mundo esportivo.
Ela é capaz de lidar com jogadores de alto nível que tem ego inflado?
Ela tem autoridade e voz o suficiente para comandar jogadas?
Ela é uma mulher, será que entende de basquete fe verdade?
Tem tanta gente com mais experiência, por que querem dar um trabalho tão sério para ela só porque é uma mulher?
Becky Hammon ganhou a confiança de Gregg Popovich desde antes de seu anúncio oficial como assistente técnica do San Antonio Spurs. Enquanto estava lesionada, em 2012, a ala-armadora usou seu tempo de fora da quadra para fazer um estágio com a equipe irmã de seu último time na NBA (San Antonio Stars) e recebeu aprovação automática de Tim Duncan, Tony Parker e Manu Ginobilli.(2019, Kin Man Hui/San Antonio Express-News)
Então, respondendo à última pergunta: Becky Hammon foi All-American como universitária durante três anos seguidos, foi contratada pelo New York Liberty sem ser draftada e saiu do banco para se tornar uma das 15 maiores jogadoras de toda a história da WNBA. É medalhista olímpica, campeã de torneios europeu. Campeã da G-League como técnica do San Antonio Spurs. Já venceu jogo da NBA como head coach. Tem em seu histórico mais de 20 anos de basquete nas costas.
Você ainda acha que ela só está sendo cogitada porque times, que tem literalmente milhões de dólares em jogo, quem “lacrar” ou dizer algo? Sim, talvez eles tenham algo a dizer sim: não existe mais espaço para questionamentos infantis e machistas no meio do esporte de alto nível.
Como a própria Becky Hammon disse: “o basquete é um esporte sem gênero”. E, se tantos outros profissionais falam o mesmo, por que fãs, e até representantes oficiais, ainda insistem que mulheres só são incluídas por motivos políticos e feministas?
Não, mulheres são incluídas porque merecem, e só não estão em números maiores porque a luta contra as disparidades no tratamento entre homens e mulheres ainda está longe de acabar.