Estrelas e naturalizações
Quando ser uma candidata a MVP não é o suficiente para uma seleção
Se você começou a acompanhar basquete feminino recentemente, pode ter achado estranho assistir DeWanna Bonner atuando pela seleção nacional da Macedônia do Norte nas qualificatórias para o EuroBasket. Afinal, Bonner nasceu no estado do Alabama, nos Estados Unidos. Em 2018, porém, tomou a decisão de se naturalizar no país europeu.
Essa é uma escolha bem comum nos esportes, dado a possibilidade de jogar em uma Olimpíada ou Copa do Mundo, mas Bonner está na A-List do basquete, porque não entrar em quadra com a seleção americana?
Vamos parar um minuto e lembrar as atletas escolhidas para formar a seleção olímpica no Rio 2016:
Sue Bird
Diana Taurasi
Simone Augustus
Lindsay Whalen
Maya Moore
Angel McCounghtry
Breanna Stewart
Elenna Delle Donne
Brittney Griner
Sylvia Fowles
Tamika Catchings
Tina Charles
Sabe o que esses nomes têm em comum? Todas foram escolhidas nas três primeiras posições durante seus respectivos anos do draft, com exceção de Lindsay Whalen, que foi a quarta pick em 2004. Mas essa “regra” nem sempre é seguida, em 2016 Candace Parker não foi convocada mesmo estando extremamente preparada para entrar em quadra. Isso fica ainda mais estranho quando lembramos que em Londres 2012, Parker liderou a equipe na final da competição contra a França.
Você pode pensar: Geno Auriemma (técnico na época) estava pensando na renovação da equipe. Acredito nisso também, afinal ele convocou Elena Delle Donne e Brittney Griner, mas ao convocar Breanna Stewart, com apenas quatro meses como profissional, ajudou a reforçar que a seleção americana é na verdade a “panelinha da Uconn”.
Acreditem quando escrevo que sou torcedora do Seattle Storm, e ninguém pode dizer que Stewart joga menos do que é esperado de uma futura Hall of Famer, mas 2016 ainda não era o seu ano. Hoje ela é mais do que titular, com número incríveis, porém já quatro anos ela era apenas a 1ª escolha do draft.
Partindo dessa longa introdução, podemos refletir que além de Parker, nomes como Courtney Vandersloot e DeWanna Bonner poderiam ter entrado para a lista final. Foram sido convocadas para os treinamentos, mas não receberam a última ligação, o que as fez optar pela naturalização.
Ser um atleta olímpico é o sonho máximo de qualquer atleta de elite, e o tempo não joga ao seu favor. É difícil imaginar que Vandersloot não esteja jogando pela seleção americana quando os seus números dizem que ela deveria ser titular e, sim, há quatro anos atrás ela estava preparada. Como consequência, em 2017 se a armadora absoluta do Chicago Sky optou por se naturalizar húngara.
A lista de atletas que decidiram adorar outros países como seus é longa: Becky Hammom, Allie Quigley, Deanna Nolan, Katie Douglas, Kristi Toliver, Kiah Stokes, Amanda Zahui B., Epiphanny Pince, Alysha Clark, Bria Hartley, Leilane Mitchell, Satou Sabally e muitas outras.
O caso de Hammom foi muito noticiado em 2008, quando a estrela do San Antonio Stars decidiu se naturalizar russa, e respondeu com propriedade ao ser questionada sobre o assunto: “This is basketball, it isn’t the Cold War” (isso é baquete, não a guerra fria).
Atualmente, fazer isso ficou mais difícil, já que a FIBA protocolou que apenas um atleta sem nenhuma ligação sanguínea com o país que representa pode integrar uma seleção. Uma opção abordada é a de naturalizar atletas antes dos 16 anos (até mesmo 12), o que de certa forma pode ser considerado tráfico de menores, mas isso é assunto para outra edição.
Jogadores que escolhem se naturalizar são chamados de antipatrióticos e mercenários, mas na maioria dos casos faltou a oportunidade. Qualquer uma das jogadoras listadas acima fariam um excelente trabalho, e os EUA certamente subiriam ao topo do pódio.
Bird e Taurasi, no que ficou conhecida como “A melhor live de quatro horas já feita na história do Instagram”, falaram sobre a seleção e deixaram claro que o que mais importa é ter uma equipe que tenha o encaixe perfeito, jogadoras que conseguem jogar juntas, e que caso nenhuma das duas estiverem saudáveis o suficiente, não seriam convocadas.
Será mesmo?