A mulher que escreve sobre basquete NÃO merece mais tanto assédio
Extra: conheça algumas mulheres que cobrem esporte
Olá amigos, tudo bem?
Estamos de volta! Talvez você esteja se perguntando sobre o motivo da ausência de newsletters. Como reportei nas últimas semanas, me mudei de estado. A mudança em si já foi um tanto quanto complicada, e agora outras coisas acumularam no meio do caminho. Mas coisas boas! Consegui um emprego (temporário, mas um emprego!!!) e meu processo imigratório está sendo finalizado (entrevista para o green card marcada marcada). Tudo isso demanda um tempo (e dinheiro) absurdo, e em meio à pandemia do COVID-19 tudo piora.
Ademais, estou trabalhando em outros lados do Beta Basket. Como disse recentemente, o projeto está crescendo e vamos além da newsletter. Já temos um domínio e uma plataforma, agora só falta lidar com a parte gráfica e começar a produzir conteúdo. O endereço do site será beta-basket.com. Se algum leitor trabalha com web design ou conheçe alguém que trabalhe com isso, por favor entre em contato.
Essa semana vamos três edições: hoje, amanhã e sexta-feira. Cada dia uma das colaboradoras vai trazer um tema, e temos muitas coisas importantes a dizer. Gostaria que vocês dessem bastante atenção ao que a Isabella Mei e a Rebeca Valente escrevem, porque elas vão longe.
Em pouquíssimo tempo essas duas mulheres brilhantes entenderam a essência do Beta Basket: abordar o basquete feminino além da quadra em primeiro lugar. Tem Eurobasket e torneios nacionais acontecendo, NCAA e Euroliga vão começar em breve, mas existem algumas coisas que merecem nossa atenção com mais profundidade. E é para isso que esse projeto existe.
Hoje é a vez da Isabella brilhar. Então siga com a gente…
Uma pausa para reflexão, por Isabella Mei
Nós sabemos e queremos que você, leitora ou leitor, saiba que tem muita coisa acontecendo. O basquete europeu está pegando fogo: no último final de semana, Itália, Dinamarca, Finlândia, Rússia, Grã-Bretanha, Eslovênia, Bélgica, Letônia, Holanda, Suíça, Bulgária, Sérvia, Alemanha e Suécia avançaram para a terceira fase das eliminatórias do EuroBasket, que acontece em fevereiro de 2021.
Eu supostamente deveria estar escrevendo sobre isso. Deveria estar dando os resultados e fazendo breves comentários sobre a segunda janela das eliminatórias. Mas não sai absolutamente nada, porque minha cabeça é mais uma vez consumida sobre um questionamento crucial: o direito de nós mulheres estarmos aqui comentando sobre esporte.
Já denunciamos as disparidades entre o basquete masculino e feminino várias vezes. Volta e meia a discussão ressurge, e lá vamos nós argumentar sobre o direito das atletas de terem respeito ao desempenharem suas profissões. Colocamos em questão a qualidade do jogo, o histórico, a força feminina e os embates que essas atletas têm que enfrentar para provar que são merecedoras de mais espaço. Não é fácil para elas. E nem para nós.
Confesso que durante muito tempo evitei dar minha cara a tapa sobre qualquer comentário que pudesse me causar qualquer desconforto. Com esporte foi assim. Demorei meses e meses para entender que eu poderia fazer comentários sem medo de ser esculachada por “não saber do que eu estava falando”. Clubismo aqui, clubismo lá e cheguei até aqui, até essa newsletter que foi uma das minhas grandes vitórias (e eu só tenho a agradecer por Roberta acreditar que eu poderia estar aqui).
Eis que fui pega na controvérsia, não sobre errar estatísticas ou não entender sobre tetos salariais, mas em algo mais profundo e pessoal, e nas últimas 24 horas que eu poderia ter me dedicado ainda mais ao basquete, eu me questionei. E questionei se eu queria mesmo estar aqui exposta a situações que não dependem só de mim. Questionei se a culpa é minha, se eu sou capaz, se é lugar para mim, se eu entendo o suficiente e como nós somos obrigadas a passar por situações tétricas por estarmos – pasmem – ocupando um espaço que é do nosso direito. Sim, estou falando sobre assédio, sobre o intencional ou não. Sobre ser abordada de maneira invasiva por estar falando sobre esporte. E quero dizer de antemão que não, não é aceitável. Não, não está liberado chegar de forma invasiva por existir um interesse da sua parte.
Quase cai no primeiro baque – que foi pequeno –, mas não só por estar pensando em mim, e sim em todas as mulheres ao meu redor que já passaram por algo parecido ou pior. E doeu. Muito. Porque o que o meio esportivo tem de fantástico e incrível e acolhedor e poderoso, para nós, ele tem de pesado e exaustivo. E de forma pública e geral, eu gostaria de dizer a todas as outras mulheres que sinto muito que isso aconteça com tanta frequência. Eu sinto muito. E eu sei que a culpa não é nossa – afinal os desejos de outras pessoas não estão no nosso controle –, mas acho que precisamos estar cada vez mais fortes e certas sobre isso. Eu sinto muito que nosso espaço seja sempre tão invadido. Eu sinto muito que nossa capacidade seja tão questionada sempre. Eu sinto muito que nossas palavras valham o pouco que valem. Desculpem, eu estou sentida demais. Mas estou tentando cravar meu espaço com mais afinco, assim como sei que vocês estão fazendo o mesmo.
Todas essas palavras ressentidas e altamente emotivas são para dizer uma única coisa: esse espaço é nosso também. E devemos cravá-lo com afinco, sim, sem medo ou receio. A nossa luta, para além do reconhecimento e da credibilidade, é por um espaço seguro e livre de assédio.
Sei que ser mulher e estar no meio esportivo tem suas dificuldades, mas é cheio de força também, seja dentro da quadra, de campo, em uma cabine de comentários, em uma redação, atrás do microfone de um podcast ou por trás de um perfil no twitter. E é essa força que me inspira a continuar na busca de um ambiente mais justo e seguro para nós. E assim como sinto muito, agradeço por vocês serem fortes e ocuparem esse espaço. Ele me mantém aqui. Obrigada.
Mulheres incríveis cobrindo basquete, por Roberta Rodrigues
O objetivo era terminar a newsletter com o texto da Isabella Mei, mas suas palavras me fizeram lembrar das incríveis mulheres que são minhas colegas há bastante tempo e estão nessa luta pelo respeito e credibilidade na quadra, no campo, ou onde quer que tenha ação.
Dibradoras
Apesar de terem o futebol feminino como foco, Roberta Nina traz reflexões incríveis sobre o basquete feminino e a publicação também aborda temas extra-quadra para a valorização da mulher como profissional — e não objeto — no jornalismo esportivo.
Alana Ambrósio
Alana é a cara da NBA na ESPN hoje. Não tentem me convencer do contrário. Uma mente inteligente e ampla, com capacidade de cobrir qualquer aspecto de qualquer jogo (masculino ou feminino) e fazer análises profundas e certeiras.
Mariana Spinelli
Com apenas 20 anos, Mariana Spinelli conquistou espaço de destaque na ESPN na cobertura de futebol e hoje é uma das vozes mais importantes no futebol feminino. A jovem jornalista caminha para cada dia mais perto de assumir papéis cruciais na emissora.
NBA das Mina
O NBA das Mina foi um dos primeiros podcasts formados exclusivamente por mulheres para cobrir a liga norte-americana. Hoje, as quatro comandantes (Sabrina Araújo, Ana Caroline Carmo, Agata Máximo e Drika Evarini) são convidadas por portais e influenciadores para comentar sobre o que acontece no mundo da bola laranja. Recentemente começaram a abordar a WNBA também e têm feito um trabalho incrível!
Esses são apenas alguns dos nomes que me vêm à mente no momento. Eu sei que tem muitas outras, mas a newsletter ficaria muito longa. Fica aqui o meu agradecimento a todas as mulheres que vieram antes de mim e abriram as portas para que eu possa fazer o que faço hoje!